Uma série de estudos e diretrizes médicas define infecção urinária de repetição (IUR) em mulheres como a ocorrência de dois ou mais episódios em seis meses ou três ou mais episódios em um ano. As principais causas envolvem bactérias endógenas que ascendem pela uretra, especialmente quando há práticas inadequadas de higiene ou retenção prolongada da urina. 11416z
“São microrganismos da própria região geniturinária que sobem pelo canal uretral, geralmente favorecidos por hábitos como segurar a vontade de urinar ou não urinar após relação sexual”, explica a Dra. Gisele Vissoci Marquini, uroginecologista e cirurgiã vaginal.
Fatores de risco e mecanismos de ação
Hábitos miccionais inadequados. “Quando a mulher retém a urina por longos períodos, cria-se um ambiente propício para a multiplicação bacteriana”, afirma Dra. Gisele. Estudos indicam que a estase urinária aumenta em até 40% a chance de colonização bacteriana.
Atividade sexual. A Dra. Gisele destaca que “a relação sexual pode transportar bactérias da vulva para a uretra. Urinar imediatamente após o ato reduz o risco em cerca de 50%”. Essa medida simples, recomendada por diretrizes internacionais, atua como fator preventivo primário.
Alterações hormonais na menopausa. A carência de estrogênio promove ressecamento e alterações na flora vaginal, favorecendo a proliferação de patógenos. “O tratamento com estrogênio vaginal restaura o equilíbrio da mucosa e diminui significativamente as recorrências”, explica a especialista.
Estratégias preventivas e tratamentos
As estratégias preventivas e terapêuticas para infecções urinárias de repetição combinam medidas comportamentais, suplementos não antibióticos e profilaxia antimicrobiana. No âmbito comportamental, a Dra. Gisele reforça que a micção pós-coito “é o gesto mais efetivo que podemos orientar em consultório”, ao mesmo tempo em que a hidratação constante e o esvaziamento completo da bexiga em cada micção ajudam a reduzir a carga bacteriana no trato urinário.
Entre os suplementos não antibióticos, destacam-se os extratos de cranberry, que são proteínas que se aderem na mucosa da bexiga e impedem a adesão da bactéria. Por fim, na profilaxia antimicrobiana, podem ser adotados regimes de baixa dose diária de antibióticos por três a seis meses, conforme as diretrizes da European Association of Urology, ou ainda a istração de dose única de antibiótico logo após a relação sexual, prática conhecida como profilaxia pós-coito.
“A utilização isolada de antibióticos pode levar à resistência bacteriana, o que torna indispensável a investigação das causas subjacentes, antes de instituir profilaxia prolongada”, alerta Dra. Gisele, em consonância com o plano de ação global da OMS contra a resistência antimicrobiana.
Abordagem na menopausa
Para mulheres no climatério, o tratamento com estrogênios vaginais locais não só melhora a elasticidade tecidual como restabelece a flora comensal, reduzindo de 30% a 60% as infecções recorrentes, de acordo com ensaios clínicos clássicos. A especialista acrescenta: “vamos além do sintoma; atuamos na causa estrutural e hormonal”.
Importância do acompanhamento multidisciplinar
A avaliação por uroginecologista permite diagnósticos complementares, como exames de imagem, essenciais para descartar anomalias anatômicas ou disfunções do assoalho pélvico. “Em situações complexas, um protocolo multidisciplinar—envolvendo fisioterapeuta pélvico, nutricionista e infectologista—oferece um cuidado mais completo e reduz recidivas”, conclui Dra. Gisele.